Primeiras impressões da 2° edição da Mostra Espantomania
02/09/2011 10:01
Decididamente já havia sido provado que teríamos uma “intervenção Divina” na segunda edição da Mostra Espantomania quando após uma semana inteira de sol escaldante o final de semana se apresentou friorento e chuvoso. Depois de uma verificada na recém-reformada sala de cinema (que contava com um projetor e caixas de retorno de som “de verdade”, diferente do Datashow e do amplificador jurássico que utilizamos no ano passado) e de rezar por alguns minutos frente à máquina de café que instalaram na casa de cultura, Diego A. Horta e eu (Iam Godoy) tomamos uma baita surra da nova aparelhagem da sala de exibição, mas tudo correu tranquilamente. A primeira sessão contou com a apresentação do documentário “Sangue Marginal”, dirigido por Bruno Russo Simonetti e Marco Antonio Vaz de Oliveira Filho, onde grandes figuras do cinema indie de horror como Petter Baiestorf (Ninguém Deve Morrer, O Doce Avanço da Faca), Kapel Furman (Pólvora Negra), Marcelo Milici (Boca do Inferno), Dennison Ramalho (Amor só de Mãe, Ninjas), Fernando Rick (Colecionador de Humanos Mortos, Guidable: A Verdadeira História do Ratos de Porão) e outros feras do horror underground falam sobre as dificuldades de se fazer filmes de gênero no país do carnaval e do futebol.
Na primeira sessão da Mostra Competitiva (tendo como membros do juri Renato Rosatti, Vivi Amaral e Marcelo Milici) exibimos os curtas “Sonhos de Vidro” (Direção: Dasto Tespar), que impressionou com sua fotografia, mas confundiu um pouco com sua estranha legenda bilíngüe, “Estranha” (Direção: Joel Caetano) que mostrou como se faz cinema de qualidade com recursos limitados (e que causou um alvoroço no meio médico por causa da movimentação voluntária da cricóide...kkkkkkk) e o polêmico “O Doce Avanço da Faca” (Direção: Peter Baiestorf), proibido em algumas mostras e passado NA ÍNTEGRA na Mostra Espantomania. O interessante é que difícil não foi exibir o filme de Sir Baiestorf e sim explicar pra molecada presente o porquê deles não poderem assistir aquela sessão e quem conhece os trabalhos do canibal de Palmitos sabe que isso não é uma tarefa fácil. E antes que eu me esqueça; como sempre tem um caroço no nosso angu os arquivos com os curtas “A Maldição de Berenice” (Direção: Valério Fonseca) e “O Azif” (Direção: Audrey Martiliano) não foram “reconhecidos” pela aparelhagem da sala de exibição no sábado e foram exibidos somente no dia seguinte após uma conversão para outro formato de vídeo.
Na segunda sessão da Mostra Competitiva tivemos como competidores os curtas “Matheus 13:47” (Direção: Flávio Carnielli), promovendo a real salvação da Humanidade, “Fome” (Direção: Paulo Oliveira), matando a fome a qualquer custo e o vampiresco “Lâmia: Vampiro” (Direção: Rubens Mello) com uma pequena participação do fodástico Mojica Marins. Como concorrentes na categoria Melhor Curta Internacional tivemos o espanhol “Attack of the Mutant Dick from Outer Space” (Direção: Dani Moreno) que mesmo sem legenda divertiu a todos os presentes com sua absurda ficção científica e o francês “Paris by Night of the Living Dead” (Direção: Gregory Morin) que narra a história de recém-casados num país infestado por zumbis e que impressionou a galera com a qualidade gráfica de seus efeitos. Após mais um coffee-break e bate-papos no saguão do CineGrajaú com os recém-chegados Magnun Borini (Dudjinka: O Monstro Assassino), Paulo Oliveira (O Homem com Cara de Porco, Fome), Izabel Bonne e família todos seguiram para a sala de cinema para assistir a última exibição do sábado, o documentário “Dona Oldina: A Fernanda Montenegro do Trash” (Direção: Marie Pergufel). Muitíssimo bem recebido pelo público o único ponto fraco do documentário foi o de não puder ter servido algumas porções daquela polenta caseira do Sul, que maltratou todos os famintos espectadores daquele sábado chuvoso.
MELHOR MÉDIA AMADOR:
Depois de um singelo atraso cá estamos com o resultado da 2° Mostra Espantomania de Curtas de Horror/Fantástico do Grajaú/ zona Sul de São Paulo. O evento foi realizado nos dias 20 e 21 de agosto de 2011 no CineGrajaú com apoio da Subprefeitura da Capela do Socorro e da Casa de Cultura Palhaço Carequinha. O CineGrajaú fica no Calçadão do Grajaú, rua Professor Oscar Barreto, 252, Parque América - Grajaú/SP, próximo á estação de trem e do Terminal Grajaú.
DIA UM: SÁBADO – 20 DE AGOSTO DO ANO DE NOSSO SENHOR - 2011

Logo após o documentário fizemos uma pausa para tomar um café (ou chá, também de graça!!!) e conversar com os amigos Sandro Debiazzi (O Tormento de Mathias) e Dasto Tespar (diretor do curta “Sonhos de Vidro” e que demonstrou ser um valoroso guerreiro do cinema de horror nacional, pois teve o “dom” de chegar de Santos um dia antes da Mostra e pernoitar num pulgueiro aqui da Z/S típico de uma refilmagem de “O Albergue”). No decorrer do dia novos amigos foram chegando: o corajoso “infernauta” João Cont Junior (que compareceu em todos os dias desde o começo do festival), Vanessa Reis (Sonhos de Vidro), Joel Caetano e Mariana Zani (Estranha), Patty Fang (que me trouxe um botton e um catálogo do Fantaspoa autografado por nada menos que Lamberto Bava...obrigadão, Evil Dead Girl!), Fritz Martiliano (O Azif), Vivi Amaral e Eduardo Santana (Cinefantasy), Marcelo Milici e Renato Rosatti (Boca do Inferno) e uma galera local que mesmo tímida, se divertiu bastante durante todo o dia de exibições no Cine Grajaú.
Um ponto forte da mostra foi a Mostra Paralela de Curtas onde a galera de todas as idades pôde conferir curtas fantásticos como “O Tormento de Mathias” (Direção: Sandro Debiazzi, 50’, São Paulo/SP/BR, 2011), “O Homem com Cara de Porco” (Direção: Anderson Dino, 07’ 09”, São Roque/SP/BR, 2011) e “A Torre Sangrenta” (Direção: Marcio Desideri, 09’02”, São Paulo/SP/BR, 2010), que não pôde ser exibido na íntegra no festival do ano passado por causa de falhas técnicas da aparelhagem.

Algumas pessoas reclamaram sobre o fato dos filmes estarem muito escuros na telona. Tenho que afirmar que isso pode ter dificultado um pouco a qualidade de alguns trabalhos filmados em ambientes escuros, mas de acordo com o responsável pela mesa de exibições (Diego A. Horta, Projeto Sfero e coluna Sangue em Tokyo) a configuração do projetor e o cabo VGA prejudicam um pouco as imagens projetadas, mas isso não prejudicou em nada o entusiasmo da galera que aplaudia cada trabalho exibido. As 16h00min ainda não havíamos conseguido um microfone para a leitura da carta-protesto escrita pelo diretor Dennison Ramalho sobre a proibição do filme “A Serbian Film” no RioFan então decidimos distribuir os fanzines com o conteúdo da carta impresso para os visitantes.

DIA DOIS: DOMINGO – 21 DE AGOSTO DO ANO DE NOSSO SENHOR - 2011
No dia 20 de agosto de 2011 foi realizado o primeiro dia da 2° Mostra de Curtas de Horror/Sci-Fi Espantomania, situada no bairro do Grajaú, zona sul de São Paulo. De acordo com a direção do CineGrajaú e da Casa de Cultura Palhaço Carequinha teríamos a nossa disposição a sala de exibição nos dois dias da Mostra (20 e 21 de agosto) e qual não foi a nossa surpresa ao saber que no mesmo dia teria uma "vigília" evangélica ministrada pela “Igreja Pentecostal Tocha Acesa” dentro da sala de cinema que se iniciaria às 23h30min e se encerraria na manhã de domingo. Eu até achei estranho eles utilizarem a sala de cinema para o culto sendo que a própria Casa de Cultura Palhaço Carequinha tem um teatro duas vezes maior que o cinema, mas nem levei o fato em consideração.
Ficamos chocados no começo, mas no resto do dia levamos tudo na esportiva, pois a mostra terminaria em torno das 20h00min e só retornaria no dia seguinte (domingo, dia 21 de agosto) a partir das 10h30min. Quando chegamos ao local (Diego A. Horta e eu) e nos preparávamos para testar os equipamentos e filmes que participariam da Mostra Competitiva do evento notamos que havia algo de errado com o equipamento. As mesas de som tiveram sua programação alterada, cabos de som foram escondidos (se não roubados ou destruídos!) e todo o sistema de retorno das caixas de som estavam mudas. Como chegamos antes da abertura do espaço cultural chegamos a pensar que poderia se tratar de uma pane geral no prédio (tirando de base a inundação que acabou por destruir parte do cinema no começo de 2010), mas no decorrer do dia as demais salas de atividades (capoeira, balé, street dance etc) começaram seus trabalhos e somente a sala do cinema permanecia avariada. Seria uma triste coincidência?
Na minha mais sincera opinião (me perdoem os amigos e contatos evangélicos) acredito ter sido uma tentativa de sabotagem na mais pura maldade e preconceito e até arrisco que isso foi um crime premeditado. De acordo com a direção do espaço cultural a reunião religiosa não teve permissão de utilizar o espaço, mas isso não impediu o grupo de realizar a tal “vigília” num dia propício. Nos domingos, nenhum dos funcionários do Cine Grajaú trabalha e apenas os seguranças ficam no local, o que facilitou a atitude criminosa dos evangélicos. Atrapalhando a parte elétrica do cinema no sábado não teríamos a quem recorrer para os reparos e manutenção dos equipamentos. Foram horas de correria e stress até que chegamos a contratar um técnico para resolver o problema, mas duas horas de programação foram descartadas (inclusive o documentário "Fanzineiros do Século Passado", de Marcio Sno) e muitos dos visitantes acabaram por ir embora antes da resolução dos problemas.
Mas graças a Deus (Anderson “DEUS” Godoy, o técnico de informática que foi a salvação da Mostra Espantomania - 2011) o restante do evento correu sem nenhum contratempo e os poucos corajosos que resolveram ficar até o final tiveram seus trabalhos apresentados e votados como mandava o figurino, mas a sombra do descaso com a Mostra Espantomania pairava nos comentários entre as pausas das exibições. Como tivemos que alterar a programação de domingo no lugar do “Bate-Papo com o Horror” que teria como convidados Felipe M. Guerra (Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado: Parte 2), Adriano Siqueira (Site Adorável Noite), Rubens Mello (A História de Lia, Vermibus) e Joel Caetano (Estranha) resolvemos exibir os curtas da Mostra Paralela aos espectadores e visitantes enquanto Felipe M. Guerra, Sandro Debiazzi, Joel Caetano, Patty Fang, Mariana Zani, Fritz Martiliano e Renato Batarce detonavam uns lanches no Açaí Express pra espantar o frio.
Os curtas apresentados na Mostra Paralela do domingo foram os seguintes. O norte-americano “A Blind Date of Coffin Joe” (Direção: Raymond Castile) onde o assombroso Zé do Caixão procura a mulher superior num reality show de namoro, o gaúcho “Extrema Unção” (Direção: Felipe M. Guerra) que apresenta uma história sobre uma casa supostamente assombrada e o divertidíssimo Ninguém Deve Morrer (Direção: Petter Baiestorf) que arrancou suspiros e gargalhadas do pessoal com pérolas do brega nacional e com as coreografias erótico/performáticas de Gurcius Gewdner. Na Mostra Competitiva dominical foram exibidos os curtas “A Maleta” (Direção: Rodrigo Brandão) de Minas Gerais, o paulistano/canadense “Trilogia Gore” (Direção: Dimitri Kozma, Geisla Fernandes e Fernando Domenico). Do Sul tivemos a participação de “A Paixão dos Mortos” (Direção: Coffin Souza) com uma inteligente fotonovela virtual, o comentado trabalho “Velho Mundo” (Direção: Armando Fonseca) de Brasília e o aguardadíssimo “Entrei em Pânico ao Saber o que Vocês Fizeram na Sexta-Feira 13 do Verão Passado: Parte 2” (Direção: Felipe M. Guerra) que mesmo sendo o único longa-metragem da Mostra (83 minutos) prendeu a atenção do pessoal do começo ao fim. No meio da exibição do filme resolvi fazer mais uma visita à máquina de café e tropecei no pé de alguém e qual não foi a minha surpresa ao descobrir o ilustre Adriano Siqueira quietinho na primeira fileira.
No intervalo para a segunda sessão da Mostra Competitiva a bagunça tomou conta da marmanjada. Algum “cabron” sem coração decidiu que seria uma boa assassinar o pobre Siqueira num livrossínio enquanto Joel Caetano, Felipe M. Guerra e Mariana Zani faziam releituras dos cartazes no mural do saguão do Cine Grajaú. Do outro lado, as mesas de conferências viraram verdadeiros piqueniques e não posso deixar de citar o garoto Azeitona que divertiu (e aporrinhou) todo mundo com suas perguntas e dentre elas estava a sua maior dúvida: Sandro Debiazzi era o “cara da bundinha” (Gurcius Gewdner em cena de “Ninguém Deve Morrer”) mas não queria assumir?
Pondo bagunças e comilanças à parte, partimos para a segunda sessão da Mostra Competitiva com a exibição de uma trinca brasiliense encorpada por “Kaíra” (Direção: Tiago Belotti), “Paranóia” (Direção: Fé Cruz e Filipe Gontijo) e “Bastar” (Direção: Gustavo Serrate) que apresentaram com grande afinco o seu material. Um destaque especial para a sci-fi apocalíptica de “Kaíra” e o desenrolar frenético de “Bastar”, que apresentou uma nova leitura da licantropia urbana. De Mauá tivemos a participação de “Ritual do Delírio” (Direção: Marcos T. R. Almeida e J. Salles) que abordou um tema bastante apropriado para os problemas que tivemos no dia: o anti-cristianismo além da reprise dos curtas “O Azif” e “A Maldição de Berenice” que tiveram problemas técnicos no sábado.
E finalizando este relato de como foram os dois dias da mostra que “possuiu” o bairro do Grajaú terminamos o último dia da Mostra Competitiva com a exibição dos curtas internacionais que concorriam no domingo “The Devil at Lost Creek” (Direção: Raymond Castile) onde um garoto tenta livrar sua família da pobreza procurando o lendário Pé-Grande e o primeiro filme português de zumbis “I’ll See You in My Dreams” (Direção: Miguel Angel Vivas) encabeçado na sequência pelo documentário “A Curta Mais Longa” (Direção: Marta Ribeiro, Antonio Pedro Nobre e Filipe Melo) que mostrou os bastidores e algumas curiosidades do filme I’ll See You in My Dreams.
No final do dia ficou apenas o bagaço deste organizador e seus assistentes, mas uma coisa ficou bem gravada nestes dois dias de stress e correria. Não seriam as intempéries ou diversidades ideológicas/religiosas que nos impediriam de realizar o prometido: apavorar o Grajaú com um festival que nunca ninguém jamais realizou na periferia. Um muito obrigado a todos os envolvidos e aos espectadores que escolheram sair de suas casas quentinhas para assistirem esta segunda edição da Mostra que tem como principal objetivo o de apresentar o verdadeiro cinema alternativo de gênero. Um grande abraço a todos e até 2012 (se o mundo não acabar...).
Para quem não conseguiu ir na Mostra Espantomania e quer ver todas as fotos do evento basta clicar no banner abaixo.
RESULTADO ESPANTOMANIA - 2011
MELHOR CURTA PROFISSIONAL:
“Estranha” – Joel Caetano – São Paulo.
MELHOR CURTA ESTUDANTE:
“Velho Mundo” – Armando Fonseca – Brasília.
MELHOR CURTA AMADOR:
“Kaíra” – Tiago Belotti – Brasília.
MELHOR MÉDIA AMADOR:
“Entrei em Pânico... Parte 2” – Felipe M. Guerra – São Paulo.
MELHOR CURTA INTERNACIONAL:
“I’ll See You in my Dreams” – Miguel Ángel Vivas – Portugal.
MELHOR DOCUMENTÁRIO:
“A Curta mais Longa” - Marta Ribeiro, Antonio Pedro Nobre e Filipe Melo – Portugal.